Estou aqui sentado numa esplanada a beber um fino e o Mike à espera que apareça uma fatia de fiambre pela porta.
Estamos os dois tristes, com um denominador comum. A chuva.
A chuva que me obrigou a vestir o impermeável vermelho no Mike. Que ele detesta, não sei se pela cor.
A chuva que não nos deixa passear pelos montes neste período de compensação.
A chuva que me obriga a ter o Mike preso pela trela ao pé de mim para não se molhar mais do que o que está. Estamos.
Ou apenas está triste por nunca mais aparecer, como por magia, o Tigas com uma fatia de fiambre pela porta. É injusto eu estar a beber um fino e ele nada.
Na verdade, estamos todos tristes aqui no Minho com este outono que não quer terminar e dar vez ao inverno. Este outono que se acha uma monção e não nos deixa de dar chuva. Boa. É verdade.
Nem tivemos direito a uma geada para cozer as verduras da consoada. Uma tristeza.
E o Mike continua esperando o fiambre. Nunca perde a fé.
Sempre com aquela expressão de quem não come faz uns 15 dias.
Eu espero que amanhã não acorde com chuva, vá ver a obra com chuva, vá comer com chuva, fique em casa a fazer horas com chuva e venha aqui sempre acompanhado pela chuva. Começo a ficar farto de andar encharcado.
Vem inverno!
Trás o frio, e a geada.
Um pouco de tempo seco para alegrar um pouco os agricultores, como o meu pai, que não conseguem plantar nada nos campos alagados de água e o pouco que plantaram é devorado pelos caracóis que agiram este tempo e engordam com as nossas coibes. Um dia destes nem caldo verde conseguimos fazer por só sobrarem os troços.
Estou farto.
Vou pedir outro fino para esquecer e por me estar a saber bem.
Sejam felizes .