Cerveja

Sim, cerveja. Boa, assim a imagino. Mas já lá vamos.

Durante o almoço de hoje, sábado, em casa dos meus pais, como sempre, com a família toda, veio à conversa, não sei porquê, a ceia e almoço de Natal com todos os filhos em casa dos meus avós paternos.

O motivo desta lembrança não interessa. Interessa que me lembrei de passar a assinar apenas João Marques, por o meu avô paterno ser, apenas, João Marques e por eu ser João por ele ser meu padrinho. Descobri isto muito tempo depois da sua morte.

Outra coisa que descobri muito tempo depois da sua morte, muito tempo depois da morte da minha avó e da venda da sua casa, e, ninguém diria, numa conversa de almoço como a de hoje, foi que o meu avô paterno fazia cerveja.

Sim. Fazia cerveja por o vinho que fazia da ramada que circundava o terreno e uma leira (penso que tinha uma ou duas leiras… a memória de criança tem destas coisas… sem detalhe ou imaginada) não chegar para o ano todo. Fazia cerveja para o resto do ano.

Sempre que lembro isto é com desgosto por não ter a receita da cerveja. De saber como a fazia. A minha mãe lembra-se que ele andava junto do rio, rio Ave, a apanhar lúpulo, mas não se lembra de mais nada.

Desgosto por não saber disto mais cedo; de só ter começado a beber cerveja, e vinho, depois dos trintas e muitos; desgosto de não ter a receita.

Isto faz-me pensar que muita gente quer herdar dinheiro e posses dos pais e eu desejo ficar com este saber uma determinada coisa, tipo o leite creme ou a feijoada da minha mãe. Um saber fazer, algo só nosso.

Pena se ter perdido a receita da cerveja. Às vezes sonho que ainda vai aparecer alguém a dizer: encontrei isto nas coisas do avô… é uma receita de cerveja…

Sonho, porque o mais certo é a receita nunca ter passado ao papel e nenhum dos filhos ter aprendido por os tempos evoluírem e as necessidades serem outras.

Eu não tenho filhos, nem terei dada a minha idade e as minhas escolhas, mas espero que um dia me lembrem não pela conta bancária, que a cada dia está mais rapada, nem pela casa ou carro. Mas por tem ensinado algo único e meu.

Devo estar a ficar velho como o corpo já está.

Um dia destes vamos-nos mudar para a nossa casa nova e nessa altura, quando já tudo for rotina, espero encontrar a minha receita de cerveja e fazer a minha cerveja. Em memória de um avô com quem pouco convivi.

Sejam felizes.

PS: se alguém passar aqui e tiver uma receita de como fazer cerveja caseira não tenha vergonha de partilhar. Nem seja egoísta ao ponto de não partilhar este saber que alegra quem dele bebe.

Fevereiro

Primeiro dia de fevereiro e primeira semana de geada deste inverno. Pena não ter chegado a tempo de recozer as coibes para a ceia de Natal.

Andei a pedir e o inverno se encheu de coragem e lá me deu de presente estes dias de geada. Estava com saudade.

Obrigado.

Obrigado por manter as nuvens de chuva por longe.

Sei que muita gente não gosta do frio, mas eu quero mais umas semanas assim frias.

Obrigado.

Sejam felizes