Alpendre ou pátio?

Alpendre ou pátio?

Pois não sei… estou aqui sentado à mesa de jardim, se é assim que se diz, sentado a uma mesa no exterior da casa depois de ter comido um belo robalo, de aviário, infelizmente, que o mar ainda está longe e os horários de trabalho não permitem dar um salto à costa para comprar um de mar, e a acabar de beber o último, de vários, meios copos de um vinho tinto, tinto, sim.

Estou a beber o resto do copo e continuo perdido neste pensamento, se isto é um alpendre ou um pátio. Se calhar é um pátio alpendurado, nem sei se esta palavra existe, nem estou com vontade de saber.

Seja o que for, estou aqui neste espaço na frente da casa, semi-coberto, sentado a uma mesa exterior, depois de ter jantado, e a acabar o vinho do último copo que enchi, antes da Maria ter levado a garrafa, que as últimas análises não permitem excessos, a olhar a paisagem, da qual, já só se vêem as escuras sombras das árvores, num céu com restos do magnífico dia de sol que tivemos – até estou ourado com tanta vírgula.

Estou aqui a olhar a paisagem escura, de sombras, a ouvir ao longe o Mike a ladrar na bouça e a Maria a falar que um qualquer inseto voador gigante que está na cozinha, deve ser pré-estorico, razão pela qual não o vou lá matar…

Estou a olhar a paisagem e a pensar que hoje, desde que aqui moramos, foi a primeira vez que jantamos cá fora, razão pela qual fizemos este terraço alpendurado.

Não tendo sido nada de especial, estava especial. E soube-me a pouco, principalmente o vinho. Temos de ir comprar mais umas caixas deste vinho, que não sendo de outro mundo é excelente, e para o preço dele, do outro mundo.

Agora que o copo está vazio, estou dividido entre a preguiça de me levantar e ir buscar a garrafa para por mais um bocado e o desafio de enfrentar a reprovação da Maria, e com razão que estamos a meio de uma semana de trabalho.

Aqui, sentado, a ouvir esta música depois de um belo jantar, a olhar esta paisagem, o meu pensamento está de férias. Entrou de férias assim que me sentei depois de ter trabalhado o dia inteiro e ter confeccionado o jantar que comemos. Que devorei, falando correto, e o Mike, também, o dele e parte do da Maria, que não resiste ao olhar de fome.

Isto tudo por não saber se é alpendre, pátio ou varanda.

Vai ficar varanda.

Agora tenho de acordar deste sonho, quase pornográfico, que tenho de ir regar as hortaliças, que esteve calor e as quero comer, pornografia à parte, numas saladas frescas de primavera, porque vão ser comidas antes de chegar o verão.

E com tudo isto me esqueci daquilo que aqui vim dizer.

Vou regar para daqui a um bocado voltar aqui com um porto 10 anos gelado.

Sejam felizes.

Primavera

A tão esperada primavera chegou no passado dia 20 de março, Jo anunciando-se com uns dias de sol e calor que me fizeram esquecer os meses de chuva e frio do inverno que tinha terminado.

Enquanto trabalhava, via o sol que entrava pelas portadas e me alegrava com a ideia de que ia passar a semana de compensação , esta semana, a trabalhar no jardim.

A semana ainda não tinha chegado ao seu fim e já o mau tempo se anunciava, anunciava frio e chuva.

Como já era esperado, a semana de compensação começou com frio e chuva, lá se foram os planos de uma semana de jardinagem.

Como um azar não vem só, a semana trouxe, também, uma bela dor de garganta, e nem amígdalas eu tenho. Uma dor de garganta que se transformou numa magnífica tosse, dores de cabeça e nariz entupido.

Dois belos ingredientes que me afastaram da jardinagem.

O quarto dia vai a meio sem nada de útil ter feito. Pelo menos fui tendo ânimo para ir fazendo os jantares e os ajudar a comer, no meu caso, devorar.

O apetite foi a única coisa que a constipação, ainda, não estragou.

Resumindo, metade do dia do meio da semana acabou de passar e eu continuo de molho com perspectiva de continuar de molho o resto do dia, o resto da semana.

Estava aqui a procurar coisas positivas desta semana, mas não estou com ânimo suficiente para encontrar uma que seja.

Vou ali tossir e já volto.

Sejam felizes

Nevoeiro

Numa manhã quente de verao chegou a grua para dar início à construção da casa. Hoje, passado um ano e meio, numa manhã fria de inverno, partiu a grua para outra missão, deixando esta terminada.

O nevoeiro da manhã de inverno envolveu toda a operação numa aura de mistério. Adorei o ambiente e tirei esta foto.

Antes de ficarem com ideias, os vultos que estão a ver não são o S. Sebastião a voltar.

Agora é esperar o momento certo para, finalmente, conseguir uma foto da casa sem coisas na frente. Um dia destes, quem sabe.

Sejam felizes

Primeira tarde do ano

Estou aqui sentado na varanda a olhar os carvalhos despidos das folhas, a olhar os sobreiros tímidos que se deixam ver no outono e inverno por entre os carvalhos e a ignorar os eucaliptos e pinheiro.

O Mike anda ali na varanda a tentar perceber para onde foram as ovelhas que tínhamos lá em baixo junto da cancela ou a perceber onde vai dormir o próximo sono, tarefa nada fácil com tanto sítio onde se pode deitar a dormir. Pelo menos assim o entendo.

O sono foi rápido, acordado por um corvo. Foi para ali ver o que se passa.

O corvo não se cala, a Maria, a minha mãe e sogra mais uma senhora trocam conversas sem fim. Os carros que passam ao longe e uns pássaros alegres com esta tarde fria e cinzenta completam a paleta de sons.

O dia começa a escurecer caminhando para o seu fim e olho o sítio onde anteontem estava a grua. Falta algo que já era familiar.

Entretanto voltei onde estava, para voltar a comer… esta aflição com a comida me aflige.

Sejam felizes

Sonho

Hoje acordei de madrugada, deviam ser umas 10 da madrugada. Acordei e tinha algo ao meu lado, me empurrando para fora da cama, apalpei e não era a Maria, pelo pêlo era o Mike, o cão mais bravo aqui de casa.

Arrastei-me para fora do vale-de-lençóis usando toda a minha força, o Mike arrastou-se na minha frente e ficou parado, depois de conseguir passar a porta do quarto, a rosnar virado para uma janela.

Pensei: este ainda está a sonhar.

Lá consegui pôr-me de pé, meio a dormir, meio a sonhar, e fui olhar a janela para ver o que estava a acontecer. Deparei-me com este cenário.

Pensei que estava de férias num desses sítios ECO tão na moda, tinham feito a gentileza de mandar as ovelhas para a frente da minha janela para ter a sensação de como seria ali viver quando as pessoas viviam em comunhão com a natureza.

Não estava a sonhar, tinha chegado a equipa de jardinagem para tratar da erva.

Depois de fechar as portas, para a nossa fera, o Mike, não ir lá fora ver como estava a forma física dos jardineiros após o Natal, fiquei a ver o belo trabalho de aparar a erva destes belos animais.

O encanto não demorou muito, porque assim que a equipa de jardinagem viu a sebe de gardenias correu logo para as aparar, não fosse um dos pedreiros que aqui está a remendar um dos muros de pedra, e teriam aparado as gardenias até ao pé.

Corremos logo com estes jardineiros.

Agora já sei o motivo de nesta parte da sebe as gardenias serem mais pequenas… temos de ter muito cuidado com as equipas de jardinagem que arranjamos.

Entretanto, passaram dois dias e acordei com um cenário completamente diferente, o sol frio de inverno dá lugar ao cinzento chuvoso de outono.

E eu continuo sem saber se ainda estarei sonhando e tudo isto não passa de um sonho e ainda durmo.

Terei sido levado para outro sítio, obliterado por uns ET’s brincalhões?

Seja o que for que esteja me acontecendo, os pedreiros trabalham bem durante este tempo. O muro está irreconhecível.

Está na hora de acordar, que o despertador está a tocar ao longe. Ou será a barriga com fome?…

Sejam felizes.

Inverno

Faz tempo que não venho até aqui, e não é pelo frio ter gelado os dedos, que neste inverno ainda não tive a sorte de sentir as orelhas gelarem até deixá-las de sentir.

Na verdade senti vontade de vir numa das manhãs da semana que terminou, mas fiquei-me pela preguiça de, apenas, contemplar o que estava a ver.

Até tirei uma foto daquilo que os meus olhos me mostravam, mas como sempre, o meu cérebro mostra algo mais que aquilo que a câmera deste telemóvel gravou.

Pela primeira vez neste inverno acordei a ver o sol por entre as árvores despidas pelo outono. Acordei sem o cinzento pesado de chuva que esticou o outono até agora.

Finalmente uma manhã alegre de sol.

Faltou o branco da geada, o frio que gela as orelhas e me deixa com aquela vontade de estar parado ao sol a sentir o calor na pele gelada pelo frio.

Mas como sou otimista, sei que a geada vai aparecer ainda antes do Natal. Seria o presente perfeito.

Agora vou para o sol enganar a fome e ajudar o sol, com um copo de vinho, a aquecer a alma.

Sejam felizes.

Outono

Estou aqui sentado na varanda a olhar Júpiter, acho que é Júpiter, depois de um belo jantar e ter bebido o último copo de um magnífico vinho da casta castelão, de Setúbal.

O Mike está lá longe no meio do monte a ladrar depois de ter comido que nem uma besta. Não sei qual a maior besta, se ele se eu. A diferença é eu não ir para o meio do monte ladrar, no resto somos iguais, comemos os dois quem umas bestas.

A Maria, sempre com os mesmos stress, nem ligo, fazem parte do folclore da Maria.

Não sei como descrever o que está a acontecer neste preciso momento, mas estou aqui sentado a ouvir a Maria ao telefone e a tentar perceber, dentro do meu cérebro, o que vim aqui escrever…

Acho que apanhei o fio à meada.

Estou aqui a olhar Júpiter e a pensar no seguinte:

Vivemos nesta casa, escrevo vivemos por viver a Maria, o Mike, dois ou três sapos, ainda não consegui perceber bem se o maior são dois, montes de insectos vários, uns irritantes e outros insignificantes, e eu, vai fazer duas semanas. Duas semanas depois de eu considerar a casa terminada por dentro.

O que me deixou a pensar, e me fez escrever isto, é estar aqui a viver nem faz 2 meses, ainda ter a grua aqui ao lado, a terra por espalhar à volta da casa, o entulho das outras leiras por arrumar e o jardim por plantar e já ter a sensação de ter vivido aqui desde sempre. Isto é tão estranho que me deixa a pensar que este spot tem algo de místico, algo que me prendeu desde o dia que visitamos este sítio para o comprar.

Isto é tão estranho que deixei de tentar perceber. Agora sento-me a olhar o céu, as árvores… o infinito, como num estado zen.

Vou aproveitando que este outono pensa que é verão e me permite estar aqui fora sentado a sentir a vibração do sítio, como que em ressonância. Coisa tão estranha.

Estou a adorar este outono e, pelo ladrar do Mike ali em baixo, ele está a adorar, não sei o quê, mas pela alegria do ladrar, está a adorar mais que eu e a Maria juntos.

Sejam felizes

Fim de tarde

Estou aqui sentado a olhar a paisagem, a olhar o infinito, a ver o tempo passar neste fim de tarde em que parece que a natureza foi ver o mar e ainda não voltou.

Estou a olhar a lua precoce a subir no céu e o sol saindo para descansar deste dia.

Observo o pintar de dourado com que o sol se despede deste dia de verão.

Observo como a natureza se começa a vestir de outono, um outono cheio de vontade de voltar das férias pelo outro hemisfério.

Observo como o verão ainda não está preparado para sair de cena. Está como eu, dividido entre a vontade de ver a chuva, sentir o vento e o frio e continuar aqui neste fim de tarde em que o único ruído é o da nossa civilização.

Vontade de saber como teria sido estar aqui no tempo do COVID, sem aviões a riscar o céu com o seu ruído, sem carros a correr ao longe apressados de chegar a lado nenhum, sem os foguetes de festas longínquas, sem humanos a fazer ruído. Gostava de ter estado aqui a desfrutar este fim de tarde nesse tempo.

Deixo-vos com este pequeno canto da paisagem por imaginar que estou na Austrália. Sempre que olho este bocado imagino que a Austrália será assim num fim de tarde.

Sejam felizes.

Auto Retrato Sobre Transístor Molhado

Hoje, estava eu sentado na minha esplanada, nossa esplanada, a olhar a paisagem e lembrei deste magnífico programa de rádio da extinta XFM.

Auto Retrato Sobre Transístor Molhado.

Não era num transistor molhado que eu estava a olhar o nosso autorretrato, mas era da mesma matéria prima.

Sílica.

Seja como for, como o extinto programa, era um magnífico reflexo, um magnífico autorretrato de duas magníficas personagens. A Maria e eu.

Procurem-nos algures na vegetação para além do vidro.

Usem a imaginação.

E para quem gosta de música, procure este programa de rádio onde podem ouvir magnífica música. Para quem não gosta de música, não perca tempo que não vai gostar da música.

Sejam felizes

Portas, a entrada.

Faz hoje duas semanas que passamos a porta de entrada da nova casa, desta vez para habitar, para la viver como casa. Como lar.

Até esse momento tínhamos passado várias vezes a porta, mas para entrar numa construção que vimos nascer.

Confesso que a construção não pode ser dada como concluída, se é que alguma vez uma construção é concluída.

Ainda faltam afinar alguns pormenores por dentro que vão permitir arrumar tudo definitivamente, outra palavra que nunca acaba. Só a morte é definitiva, dizem.

Seja como for, temos habitado esta casa nova.

De todas as casas que habitei na minha vida, esta é a que está a demorar mais tempo a ajustar. Nem sei o motivo. Mas tanto a Maria como eu temos acordado muito cedo, e eu que gosto de dormir até tarde. Devo estar velho.

A casa tem tantas portas que ainda estou a ajustar quais os caminhos que devo fazer entre o exterior e o interior. Uma noite destas entrei pelo vidro, pensei que estava aberto de um lado e era do outro. Pensei que tinha partido o nariz, nem sei como não ficou negro, ainda dói.

Ainda bem que ainda não temos câmeras, ou já estava o João a tentar fazer magia passando por portas de vidro no tubo

Uma coisa é certa, o vidro é bom. Resistiu e aguentou a minha investida. Estava cheio de fé que estava aberta daquele lado. Pior é ter sido eu a fechar daquele lado e abrir do outro lado.

Outra coisa que está a demorar a ajustar é o trono, tenho de arranjar uma escada para chegar com os pés ao chão. Sinto que sou o anão na Guerra dos Tronos tentando se sentar no trono, aquele feito de espadas, que esqueci o nome. Só não arranjo um dragão lá para casa por ter de levar com a galinha do SLB.

No meio disto tudo, o Mike é quem mais rápido se habituou à casa. Nem tem medo do vento. E acorda cheio de nervos para ladrar aos vizinhos, aos outros cães da zona que respondem ao longe. Já tem amigos e nunca os viu. Também deve ladrar aos animais que andam pela mata e ele ouve.

O Mike adora tanto a casa que está sempre pronto a voltar para casa. Antes tínhamos de o obrigar a entrar no apartamento, agora temos de o obrigar a sair de casa.

Para aqueles que neste momento estão a pensar:

– Onde está a foto da entrada?

Não tem por eu ainda não saber qual é a entrada. Existe uma oficial, mas eu ainda não sei qual é a verdadeira porta de entrada.

Sejam felizes.