Auto Retrato Sobre Transístor Molhado

Hoje, estava eu sentado na minha esplanada, nossa esplanada, a olhar a paisagem e lembrei deste magnífico programa de rádio da extinta XFM.

Auto Retrato Sobre Transístor Molhado.

Não era num transistor molhado que eu estava a olhar o nosso autorretrato, mas era da mesma matéria prima.

Sílica.

Seja como for, como o extinto programa, era um magnífico reflexo, um magnífico autorretrato de duas magníficas personagens. A Maria e eu.

Procurem-nos algures na vegetação para além do vidro.

Usem a imaginação.

E para quem gosta de música, procure este programa de rádio onde podem ouvir magnífica música. Para quem não gosta de música, não perca tempo que não vai gostar da música.

Sejam felizes

Portas, a entrada.

Faz hoje duas semanas que passamos a porta de entrada da nova casa, desta vez para habitar, para la viver como casa. Como lar.

Até esse momento tínhamos passado várias vezes a porta, mas para entrar numa construção que vimos nascer.

Confesso que a construção não pode ser dada como concluída, se é que alguma vez uma construção é concluída.

Ainda faltam afinar alguns pormenores por dentro que vão permitir arrumar tudo definitivamente, outra palavra que nunca acaba. Só a morte é definitiva, dizem.

Seja como for, temos habitado esta casa nova.

De todas as casas que habitei na minha vida, esta é a que está a demorar mais tempo a ajustar. Nem sei o motivo. Mas tanto a Maria como eu temos acordado muito cedo, e eu que gosto de dormir até tarde. Devo estar velho.

A casa tem tantas portas que ainda estou a ajustar quais os caminhos que devo fazer entre o exterior e o interior. Uma noite destas entrei pelo vidro, pensei que estava aberto de um lado e era do outro. Pensei que tinha partido o nariz, nem sei como não ficou negro, ainda dói.

Ainda bem que ainda não temos câmeras, ou já estava o João a tentar fazer magia passando por portas de vidro no tubo

Uma coisa é certa, o vidro é bom. Resistiu e aguentou a minha investida. Estava cheio de fé que estava aberta daquele lado. Pior é ter sido eu a fechar daquele lado e abrir do outro lado.

Outra coisa que está a demorar a ajustar é o trono, tenho de arranjar uma escada para chegar com os pés ao chão. Sinto que sou o anão na Guerra dos Tronos tentando se sentar no trono, aquele feito de espadas, que esqueci o nome. Só não arranjo um dragão lá para casa por ter de levar com a galinha do SLB.

No meio disto tudo, o Mike é quem mais rápido se habituou à casa. Nem tem medo do vento. E acorda cheio de nervos para ladrar aos vizinhos, aos outros cães da zona que respondem ao longe. Já tem amigos e nunca os viu. Também deve ladrar aos animais que andam pela mata e ele ouve.

O Mike adora tanto a casa que está sempre pronto a voltar para casa. Antes tínhamos de o obrigar a entrar no apartamento, agora temos de o obrigar a sair de casa.

Para aqueles que neste momento estão a pensar:

– Onde está a foto da entrada?

Não tem por eu ainda não saber qual é a entrada. Existe uma oficial, mas eu ainda não sei qual é a verdadeira porta de entrada.

Sejam felizes.

Como perder o tesão em 3 minutos?

Hoje tive de acordar com as galinhas, nem quero pensar no motivo por não valer a pena.

Aproveitei o tempo da manhã para ir buscar um pouco de entulho, uma parte para nossa casa e a outra para os meus sogros, para estagiar, como o vinho.

Depois de largar tudo na zona de estágio, aproveitei para ir a um hipermercado da praça para comprar umas necessidades.

Depois de conseguir encontrar um sítio onde estacionar o carro, fui a correr buscar o que lá me levou e mal se abriram as portas, saí a correr para o carro. A meio do caminho percebi que tinha mesmo de lá ir, o Mike tinha de comer.

Lá pequei num carrinho e me dirigi a correr para a zona do talho.

Tirei a senha e reparei que faltava uma dezena até à minha vez, e fiquei quieto esperando.

Foi nesta espera que comecei a perceber o que se passava à minha volta.

Tinha um enxame de mulheres velhas, novas e assim-assim no talho, todas amontoadas junto do balcão. Todas vestidas com roupa de compras de hipermercado, entendem?

Na peixaria estava outro enxame de mulheres, iguais às primeiras. Impacientes e a espreitar o peixe com olhos gulosos e invejosos por a outra na frente estar a olhar o mesmo peixe, a mesma peça de carne.

Onde tem enxames de mulheres tem mais dois tipos de pessoas, homens e crianças.

Crianças a correr e gritar de um lado para o outro, histéricas e sempre com merdas na mão. Merdas do tipo que enchem os carrinhos de compras e esvaziam as carteiras e no fim não servem para nada. Bolachinhas, geladinhos, merdinhas, coca-cola’s, etc…..

A gritaria das crianças e das mulheres, mães, avós e irmãs, uns por quererem outros por não quererem é de levar à loucura.

Depois tem os homens do enxame de mulheres. Todos de olhar perdido, sem saber o que estão ali a fazer ou com caixas de vinho ou cerveja sempre de olhar perdido à procura do carrinho amontoado de compras, da mulher, do que ali estão a fazer. Sorte a minha dos que ficam no carro à espera da mulher.

Para ajudar a festa, nesta altura do ano vem sempre acompanhou dos parentes imigrados que tem sempre algo a dizer, que nunca é positivo. Ouvindo até fico com vontade de imigrar, mas passar-me logo.

Depois de chegar a minha vez e ser servido, como na espera fui logo buscar o que me lembrava que faltava, fui a correr para a caixa aberta com menos fila, na esperança de dali sair rápido.

As filas são outra armadilha, tem algumas enormes que só tem uma compra por vir a família toda e não saberem esperar o lado de fora. Saber ler as filas é uma arte. Tive sorte na escolha.

Enfim…

Ao fim-de-semana sempre gostei de ficar na cama até tarde e estes momentos me deixam a pensar que é melhor dormir e ir lá de tarde.

Depois de pagar e sair a correr, já no carro, me lembrei que me faltava comprar mais duas coisas e estive quase a voltar a estacionar o carro. Mas pensei:

– Se voltar lá dentro corro o risto de perder o tesão pelo resto da semana…

Rumei a casa para por as compras no frigorífico e ver como estavam as reparações lá da casa antes de descarregar mais uns sacos de entulho.

A minha sorte é ter o Pokémon go para me distrair. Foi por pouco que não perdia o tesão.

Até já e sejam felizes.

Armários…

É em momentos como este que percebemos que por mais armários que existam, falta sempre mais um.

Neste caso dois, um para CD’s e outro para livros.

Para os CD’s o problema está resolvido com o serviço de streaming Spotify e a primeira parte do fundo da cama de hóspedes. Para os livros, enquanto não existe, que eu conheça, um Spotify para livros, a segunda parte da cama de hóspedes vai dando até ocupar o resto. Depois vou ter de convencer a Maria a libertar os livros, deixando-os em mesas de café ou emprestando com a esperança que não os devolvam. Coisa que já fazia em Lisboa quando percebi que um dia os teria de arrumar ou levar para outro sítio.

Nesta mudança de casa parece que abri um ovo e agora a gema e a clara já não cabem lá dentro de novo, nem dentro de dois ovos.

Parei um pouco para pensar e temos um problema maior. Onde vamos por a garrafeira?

Vai ser uma alegria resolver o problema da garrafeira…

Sejam felizes.

Portas

Por esta porta entrei para um novo período da minha vida. Um período que ainda vivo. De felicidade e alegria.

Esta porta tenho utilizado muitas vezes nos últimos anos, podia dizer quantos, mas ia ter de fazer umas contas e de férias não sou bom em contas. Prefiro dizer “últimos anos” por não ter dado pela passagem dos anos e não ter necessidade de os contar, fico-me pelo prazer de viver cada momento cujo somatório dará, deu, anos.

Na última semana tenho entrado pela porta com sacos vazios e saído com eles cheios.

Cheios de coisas que fomos usando e guardando desde que pela porta entrei, cheios de coisas de vidas anteriores.

Cheios de recordações e inutilidades. Cheios de motivos de alegrias e tristezas.

Neste preciso momento estou sentado no chão da nova varanda a olhar o passar do tempo acompanho de uma mini, a descansar de mais uns sacos descarregados. Estou cansado de tanto objeto guardado.

Uma das preocupações da Maria quando começamos a desenhar a nova casa foram as arrumações.

-“Nunca vi uma casa com tantos armários!”

Disse alguém da carpintaria, e outras pessoas iam dizendo o mesmo por outras palavras.

-“Tantos armários!”

Já estão cheios e sinto que ainda tenho de fazer mais umas viagens.

Se o meu critério de coisa útil que devo trazer para a nova casa fosse o que tenho hoje, tirando a mobília, ia caber num saco daqueles azuis do IKEA.

Como é possível sermos tão apegados a objetos do passado?

Uma coisa vos digo, e com ela vou tratar de vida, o “se calhar ainda vamos usar…” é o melhor amigo dos carpinteiros. E mais não digo.

Fiquem bem e sejam felizes!